quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O "Grande" Príncipe

Ele acordou cedo.... Estava se sentindo estranho naquela manhã.... Uma sensação de vazio, de nada, sentiu-se sem conteúdo...
Não deu importância para isso e decidiu pular da cama pois tinha que fazer a higiene do seu planeta. Revolveu os vulcões, mas não havia a necessidade por que eles estavam exatamente como no dia anterior... Sem pensar, foi regar sua rosa... Pegou o regador e o encheu de carinho, amor, afeto e muita atenção... Ele estava pesado, não conseguiu levantá-lo. Então arrastou até onde estava plantada sua amada.


Mas onde ela estava? No lugar onde estava aquela linda rosa, que um dia fora vermelha e muito vaidosa, havia apenas um galho seco e escuro... Ficou triste, mas no fundo ele sabia que ela era efêmera. Mas o que é mesmo "efêmera"? Pensou em sua conversa com o geógrafo há muitos anos... Lembrou: Efêmera - dura pouco tempo...
Mesmo sabendo disso, a tristeza tomou conta do seu coração e sua sensação de vazio aumentou. Ela era tão vaidosa, bonita e só espalhava perfume e alegria... E agora era somente um galho seco. O que fazer com aquele galho agora... Nada! Decidiu deixá-lo onde estava. Talvez brotasse... Sim, sempre há a esperança. Regou e saiu.


Pensou que já não tinha mais nada para fazer ali... Não era mais útil naquele lugar. Pensou em voltar á Terra, onde havia feito "amigos". Mas decidiu não passar nem perto do planeta do Rei, do Vaidoso, do Empresário, do Bêbado, do Acendedor de Lampiões e nem no planeta do Geógrafo. Não! Essas pessoas já haviam lhe ensinado aquilo que sabiam. E mesmo que muito tempo tivesse passado, tinha certeza de que elas continuavam iguais, sem nada para acrescentar... A Terra seria seu rumo, direto! Pegou carona com seus pássaros e partiu...


Nossa... como demorou para chegar! Os pássaros, que outrora voavam com leveza e rapidez, agora faziam um esforço tremendo para carregá-lo. 
Finalmente chegou! Exatamente no mesmo lugar onde já estivera. Lembrou de seu amigo aviador! Pensou:- Se eu tiver sorte, ele vai estar por aqui... Correu a sua procura... correu mais... Chamou por ele até quase ficar sem voz... E somente o eco respondia. Sentou-se sob a areia, ainda mais triste... Não é á toa aquele sentimento de vazio pela manhã... realmente algo havia mudado. Sentiu-se culpado por ter deixado seu amigo sozinho no meio daquele deserto quando voltou para sua rosa. Sacudiu a cabeça... Queria que aquela sensação saísse. Talvez o aviador nem lembre mais daquele encontro. Talvez tenha sido só uma experiência. Outros amigos apareceram e se tornaram também importantes na sua vida.
A sede secou sua garganta. Procurou  pelo poço com aquela velha roldana que cantava cada vez que se movimentava. Lá estava ele e a água brotava da terra. Saciou-se rapidamente! A água é essencial! Essencial!! "O essencial é invisível aos olhos"!!! O segredo da raposa!



Ficou feliz! Sua amiga que lhe contou tantos segredos certamente estaria lá! Caminhou entre os trigos e viu a toca onde morava aquela que era sua AMIGA! Lembrou que não havia avisado seu horário de chegar para ela se preparar. Riu sozinho quando pensou nisso e correu, com os braços abertos até a pequena porta. Quase sem folego, gritou: - Eu te cativei, e tu também me cativaste... por isso voltei! Raposa!!! Raposa!!! Venha me dar um abraço! Silencio... O sorriso foi se desmanchando... os olhos enchendo de lágrimas, e já estava de costas para a toca quando teve a sensação de alguma coisa se movimentou. Voltou o rosto para trás e viu sua amiga saindo lentamente. Correu com toda sua força e deu um forte abraço naquela que um dia havia sido a sua amiga. Ela o envolveu com os braços, sem muita expressão, sem força... 
Com os olhos brilhantes, perguntou: - Como você está? Que saudades! Precisava tanto de seu abraço! Estou feliz por não estar mais tão sozinho...
A raposa se espreguiçou, bocejou e disse: - Que horas são? Estou morta de sono... 
O rosto dele foi perdendo a expressão... Como podia a sua grande amiga lhe tratar assim depois de tanto tempo sem vê-lo?  Meio sem graça, mas tentando animar-se, ele gritou:- São quatro horas!! E se eu digo que vou chegar ás quatro, desde ás três... (Foi interrompido com um sonoro gemido). Não grite, disse a raposa, não sou surda!!! Nesse momento aquela sensação de vazio voltou a tomar conta mais uma vez... A raposa disse a ele que tinha que voltar para sua toca, que tinha muito o que fazer e não podia perder tempo... 
Seus olhos fecharam e uma única lágrima correu. 
Procurou seus pássaros e pediu que o levasse de volta ao seu planeta. Durante a viagem foi pensando em tudo que havia vivido naquele dia e não conseguiu entender. Se perguntava a todo momento: - Por que?
Não encontrou a resposta. Chegando de volta ao lugar de onde nunca deveria ter saído, sentou-se e chorou... Mas chorou tanto que uma poça de água se criou em sua frente.
E foi nessa poça, que ele se refletiu. Abriu bem os olhos e viu, surpreso, a imagem de um homem. Seus cabelos já não eram finos e macios... Em seu rosto, haviam marcas que o tempo havia deixado. Seu corpo, as mãos... Já não eram mais as mesmas, com a pele macia e sedosa.
Sim, o tempo havia sido implacável. Ele se tornara um adulto... Mas somente em seu exterior, pois os sentimentos continuavam tão puros quanto eram.
Assim, ele secou o rosto com as costas das mãos. Respirou fundo, encolheu-se numa posição quase fetal, e dormiu...




 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

247 - Falta 1 dia para a estréia...

Sempre penso que as coisas não acontecem por acaso.... Em maio desse ano, estreamos o espetáculo "Sapatos Vermelhos"... Foi e está sendo uma experiencia maravilhosa, por que tem empenho e dedicação, além de talento de toda a equipe envolvida... 


(Foto: Márcia Nega)

Em um dos jantares que fizemos, para minha surpresa, Cristiano Silveira me chamou no Estúdio (que estava uma bagunça por que tinha acabado de acontecer uma apresentação) para conversarmos. Fui até lá sem entender muito bem o que se passava. Foi então que, meio sem jeito, ele me falou de um texto que havia escrito e que gostaria de encenar e que eu o dirigisse: 247! 
Na hora, peguei as folhas e guardei... afinal havia muito vinho na mesa... No outro dia, lembrei de nossa conversa e busquei o texto. Na primeira passada de olhos, me encantei! Nunca duvidei da capacidade desse ator, mas li um texto polêmico, com um personagem completamente diferente das nossas realidades... Um desafio! Sim, para todos nós... A personagem que a atriz Rita Reis interpreta, apesar de ser uma aparição pequena, é de importância fundamental para o rumo da história.
Foram alguns meses de ensaios, e 247 foi crescendo... foi tomando forma... O texto inicial já não fazia diferença... Ele tinha que falar de sua vivência. E falou! E fala! Conta a sua história sem medo de julgamentos,  sem medo de críticas, sem receio de condenações... até por que não tem como piorar mais a sua situação.


(Foto: Lennon Ortiz)

Assim como os personagens cresceram, nós também crescemos... e MUITO!! 
Hoje, a um dia da estréia, estou tranquilo... 
Obrigado a todas as pessoas envolvidas nesse trabalho... Não só os que tem envolvimento direto... mas também aos namorados(as), amigos e familiares que tiveram a paciência de nos aturar nesse processo. Obrigadão de verdade... 
André Guedes.



sexta-feira, 2 de maio de 2014

O PEQUENO PRÍNCIPE


Quando o ano de 2014 começou, achei que seria um ano igual aos outros.... trabalho, casa, etc.... Mas com certeza me surpreendeu.... Esse ano conheci pessoas novas, idéias novas, e vi algumas coisas que não gostaria de ter visto, mas faz parte...
Mas eu tinha um objetivo: estrear o espetáculo de teatro de bonecos "O PEQUENO PRÍNCIPE"! E a uma semana da estréia estou muito feliz com mais esse sonho realizado. Estrear o espetáculo que venho trabalhando há 3 anos, desde a adaptação da obra, construção dos bonecos, criação da cenografia até o período de ensaios, criação das vozes das personagens, movimentação de cada um.... foi um trabalho que eu achava que não teria fim....
Para completar, consegui colocar a peça dentro do Estúdio dos Bonecos. Estrear no espaço que criei para isso.... É a realização de um sonho. Sei que para muita gente pode parecer pequeno, mas quando a gente tem um sonho e consegue realizá-lo, é muito gratificante para quem sonhou....
Mas não teria conseguido sem a ajuda e apoio de muitas pessoas. Então, meu mais sincero agradecimento á Adriana Guimarães, que criou a arte do espetáculo com tamanha poesia e simplicidade, assim como é nosso espetáculo. A Fundação de Canela, que apostou na peça mesmo sem ter estreado ainda e á todas as pessoas que me aguentaram falando sobre o Pequeno Príncipe durante todo esse tempo.



Então, convido todo mundo que queira partilhar desse sonho a assistir a nossa proposta de "O Pequeno Príncipe" dia 10 de Maio, ás 16 horas no Estúdio dos Bonecos - Borges de Medeiros, nº 75 - Centro de Canela. 
Na verdade, é um espetáculo para crianças... ou para todos os adultos que já foram crianças um dia...